quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Poesias de Cecilia Meireles

Poemas de
Cecília Meireles
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Ou Isto Ou Aquilo
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Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

♥♥♥

O Menino Azul
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O menino quer um burrinho
para passear.
Um burrinho manso,
que não corra nem pule,
mas que saiba conversar.

O menino quer um burrinho
que saiba dizer
o nome dos rios,
das montanhas, das flores,
— de tudo o que aparecer.

O menino quer um burrinho
que saiba inventar histórias bonitas
com pessoas e bichos
e com barquinhos no mar.

E os dois sairão pelo mundo
que é como um jardim
apenas mais largo
e talvez mais comprido
e que não tenha fim.

(Quem souber de um burrinho desses,
pode escrever
para a Ruas das Casas,
Número das Portas,
ao Menino Azul que não sabe ler.)

♥♥♥

As Meninas
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Arabela
abria a janela.

Carolina
erguia a cortina.

E Maria
olhava e sorria:
"Bom dia!"

Arabela
foi sempre a mais bela.

Carolina,
a mais sábia menina.

E Maria
apenas sorria:
"Bom dia!"

Pensaremos em cada menina
que vivia naquela janela;

uma que se chamava Arabela,

uma que se chamou Carolina.

Mas a profunda saudade
é Maria, Maria, Maria,

que dizia com voz de amizade:
"Bom dia!"

♥♥♥

A Bailarina
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Esta Menina
Tão pequenina
Quer ser bailarina

Não conhece nem dó nem ré,
Mas sabe ficar na ponta do pé.

Não conhece nem mi nem fá,
Mas inclina o corpa para lá e para cá.

Não conhece nem lá nem si,
Mas fecha os olhos e sorri.

Roda, roda, roda com os bracinhos no ar
E não fica tonta nem sai do lugar.

Põe no cabelo uma estrela e um véu
E diz que caiu do céu.

Esta Menina
Tão pequenina
Quer ser bailarina

Mas depois esquece todas as danças,
E também quer dormir como as outras crianças.

♥♥♥

O Eco
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O menino pergunta ao eco
Onde é que ele se esconde.
Mas o eco só responde: Onde? Onde?

O menino também lhe pede:
Eco, vem passear comigo!

Mas não sabe se o eco é amigo
ou inimigo.

Pois só lhe ouve dizer: Migo!

♥♥♥

A Avó do Menino
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A avó
vive só.
Na casa da avó
o galo liró
faz "cocorocó!"
A avó bate pão-de-ló
E anda um vento-t-o-tó
Na cortina de filó.
A avó
vive só.
Mas se o neto meninó
Mas se o neto Ricardó
Mas se o neto travessó
Vai à casa da avó,
Os dois jogam dominó.

♥♥♥

O vestido de Laura
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O vestido de Laura
é de três babados,
todos bordados.

O primeiro, todinho,
todinho de flores
de muitas cores.

No segundo, apenas
borboletas voando,
num fino bando.

O terceiro, estrelas,
estrelas de renda
- talvez de lenda...

O vestido de Laura
vamos ver agora,
sem mais demora!

Que as estrelas passam,
borbaletas, flores
perdem suas cores.
Se não formos depressa,
acabou-se o vestido
todo bordado e florido!

♥♥♥

Na chácara do Chico Bolacha
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Na chácara do Chico Bolacha
o que se procura
nunca se acha!

Quando chove muito,
O Chico brinca de barco,
porque a chácra vira charco.

Quando não chove nada,
Chico trabalha com a enxada
e logo se machuca
e fica de mão inchada.

Por isso, com o Chico Bolacha,
o que se procura
nunca se acha.

Dizem que a chácara do Chico
só tem mesmo chuchu
e um cachorrinho coxo
que se chama Caxambu.

Outras coisas, ninguém procura,
porque não acha.
Coitado do Chico Bolacha!~

♥♥♥

Leilão de Jardim
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Quem me compra um jardim com flores?
borboletas de muitas cores,
lavadeiras e passarinhos,
ovos verdes e azuis nos ninhos?
Quem me compra este caracol?
Quem me compra um raio de sol?
Um lagarto entre o muro e a hera,
uma estátua da Primavera?
Quem me compra este formigueiro?
E este sapo, que é jardineiro?
E a cigarra e a sua canção?
E o grilinho dentro do chão?
(Este é meu leilão!)

Fonte: "Ou isto ou aquilo", Cecília Meireles, ed. Nova Fronteira.

Quando educas?

Não educa quando impõe suas convicções,
mas quando suscita convicções pessoais.

Não educa quando impõe condutas,
mas quando propõe valores que motivem.

Não educa quando impõe caminhos,
mas quando ensina a caminhar.

Não educa quando impõe dependências,
mas quando acorda a coragem de ser livre.

Não educa quando impõe suas ideias,
mas quando fomenta a capacidade de pensar por conta própria.

Não educa quando impõe o terror que isola,
mas quando libera o amor que acerca e comunica.

Não educa quando impõe sua autoridade,
mas quando cultiva a autonomia do outro.

Não educa quando impõe a uniformidade que doutrina,
mas quando respeita a originalidade que faz a diferença.

Não educa quando impõe a verdade,
mas quando ensina a procurá-la honestamente.

Não educa quando impõe uma punição,
mas quando ajuda a aceitar um castigo.

Não educa quando impõe disciplina,
mas quando forma pessoas responsáveis.

Não educa quando impõe autoritariamente o respeito,
mas quando o ganha com autoridades de pessoa respeitável.

Não educa quando impõe o medo que paralisa,
mas quando consegue a admiração que estimula.

Não educa quando impõe informação à memória,
mas quando mostra o sentido da vida.

Não educa quando impõe a Deus,
mas quando o faz presente na tua vida.
(Autor desconhecido)
Organizado por Ivanise Meyer®